Descontruindo todo mundo.

Se no princípio havia Nada, este entristeceu-se e criou Ninguém, com quem compartilhariam uma existência quase infinita de palavras nunca ditas e pensamentos nunca pensados. Se no princípio não havia Passado, o Presente não envelhecia, não sonhava com o Futuro, não acontecia absoluta mudança alguma. Se então tivesse surgido Alguém? Nada se assustou, Ninguém mudou sua forma e o acompanharia sempre, e o Presente começou a correr. Criaram-se as leis de vida e morte. E junto, tudo aquilo que não entenderiamos dessa vez.
Se para haver morte, precisa de vida o contrário também seria verídico. Como queriamos um mundo onde vida e morte não fossem coexistentes? Para existir, precisa do equilíbrio. Foi assim que Alguém disse, e foi assim que Ninguém aceitou. Contaram-me assim, e pouco diferente acabo de repassar.
Se para viver precisamos da morte, achamos uma certeza em uma vida jamais precisa.
Precisamos entender nessa hora, as condições que a morte acontece. Se por toda nossa vida geramos morte, qual seria mais justo destino? Se nas condições das mortes, vidas se mascaram, e de mais mortes nascem frutos de ganância, Alguém está vendo.Não é culpa de Ninguém, portanto Ninguém será poupado. Mas carregando a semente de morte injusta, desequilibrada, apenas mais vida a concertará. Se para Ninguém isso é verdade, Alguém saberá. Alguém sabe de tudo que Ninguém sabe. Mais uma vez.
Se Alguém faz diferença para Ninguém, Ninguém fará a coisa certa. Entender que Nada existiu antes deles, e que ao Nada retornaram caso o equilíbrio fino de vida e morte seja quebrado. Mais de uma vez.
Se repensassemos nossas ações agora? Será que vemos a morte de nossas vidas? Se lembrassemos de todas as vidas que morreram pela nossa, e de todas as mortes que essa vida-morta já não causou, será que agiriamos como agimos? Alguém sabe Nada é eterno. Então se ora somos vida geradora de morte, ora seremos morte geradora de vida. Culpem o corredor Presente. Já que Ninguém sabe disso, Alguém não tem medo algum. Mais de duas vezes.
Se as leis foram firmadas no princípio, não mudemos elas agora. Nunca haverá vida sem morte porque nunca haverá morte sem vida. Alguém percebeu a tendência ao desequilíbrio. Nada vai voltar. Ninguém vai tentar mudar a situação.O Presente já passou. Não percamos justo agora.